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TAOÍSMO
O caminho do místico
J.CCOOPER
Martins Fontes

Citação sobre a arte TAOÍSTA, muito importante para entendermos, no nosso projeto a relação entre a arte e a meditação, no caso aqui o mindfulness.
No nosso projeto e curso, sem o viés religioso, praticamos a arte com a atenção plena.

LEITURA RECOMENDADA.
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A ARTE NO ORIENTE


Leia esta citação. Pequeno trecho do capítulo nove deste livro, a maneira que os antigos mestres orientais encaravam a arte, bem diferente do ocidente.
Vale a pena comprar e ler, leitura recomendada.

                                                                               "TAOÍSMO 
O caminho do místico
J.CCOOPER
Martins Fontes
CAPITULO NOVE," citação


"ARTE"

"Ê provável que o primeiro contato entre o Ocidente e os princípios taoísta tenha sido feito através da arte. O grande apogeu da arte chinesa na dinastia Tang (os imperadores Tang diziam-se descendentes de Lao Tzu) e na dinastia subsequente, a dinastia Sung, era sobretudo de inspiração e de influência taoístas, sendo o Taoísmo a religião da corte naquela época. Certamente uma das diferenças mais fundamentais entre o Oriente e o Ocidente está nos princípios que governam a arte. A arte do Extremo Oriente nunca foi imitativa; seu interesse está mais no elemento metafísico e espiritual do que no reino dos homens, "Ela expressa uma concepção do universo, uma visão do todo, uma liberação da luta pela existência, que subordina tudo a interesses humanos, além de ser prejudicial; é um passeio do espírito em solidão, destemido e exultante"(1). Toda a arte tradicional chinesa baseia-se na "filosofia do repouso". Via de regra, o artista abandona a vida pública e "a caminho do estado iluminado encontra a satisfação infinita"(2). Existem quadros e poemas de artistas que habitavam as montanhas, reunindo gravetos nos desfiladeiros profundos dos rios da montanha, ou colhendo ervas nas colinas, ou ainda pescando tranquilamente em rios e lagos, vivendo em total simplicidade em cabanas de sapé, sozinhos, não ouvindo qualquer outro ruído
senão o do vento nos pinheiros ou o murmúrio das águas. De fato, a maior parte da poesia taoísta lembra o murmúrio do vento nos pinheiros ou o sopro da brisa em um bambuzal, um som tão delicado, que pensamos ser tudo um sonho; mas a mente e o sentimento estiveram em atividade, e é deixado à experiência acrescentar experiência. A arte taoísta é o misticismo feito visível. Sua característica de transparência funciona como uma janela que se abre para mundos ocultos à visão comum. É a genialidade da sugestão, mais do que qualquer expressão exterior perfeitamente definida, sugestão esta que abre portas ao infinito. 
Falar de arte em relação ao Extremo Oriente não implica necessariamente falar de pintura. Não se esperava do artista chinês que ele fosse o homem de um só livro: esperava-se que ele fosse capaz de expressar suas ideias por meio da pintura, da poesia e da música, e de traduzi-las de um meio de expressão para outro. Em qualquer caso, a poesia chinesa une-se à música, visto que um poema é antes cantado do que lido. Todas as palavras possuem sonoridade, e ninguém podia ser poeta se não tivesse ouvido para a música: os "Sábios da Antiguidade costumavam dizer que um poema é uma pintura sem formas visíveis, e que a pintura é um poema que ganhou formas". A arte tampouco foi uma profissão na China: ela era uma opção de vida. Vender obras de arte era considerado um aviltamento. A menos que um artista pudesse viver sua arte, ou seja, estar em conformidade com os ritmos e harmonias da vida, ele era considerado tão inútil quanto "uma flauta entupida, através da qual o ar não pudesse passar". Sua arte, como a vida, tinha que ser móvel, fluída; ela não era uma perfeição estática de forma, mas uma resposta. Esta é a razão pela qual a pintura e a poesia chinesas sugerem, implicam e interpretam a disposição e as lições da natureza mais do que gravam eventos ou captam cenas passadas. Nada é expresso ou retratado cruamente; tudo é transmitido por sugestão, inferência, metáfora, ou simplesmente por um espaço vazio. Usando a força da sugestão, o artista, conforme o ensina-
mento dos Sábios, traz o espectador para dentro da obra, unificando-o com os ritmos da natureza e com o mundo interior.
A característica rítmica, fluída, da arte taoísta também remete à natureza transitória do mundo em constante transformação, à não-permanência de nenhum estado de espírito ou de qualquer circunstância. O espaço vazio, tão largamente empregado, simboliza a experiência interior, e o seu emprego, de acordo com os artistas chineses, requer mais reflexão e cuidado do que as pinceladas empregadas atualmente, de sorte que a meditação se torna um componente essencial de toda a pintura, de toda a arte. Este "vazio" representa também a mente aberta. "Se um homem é vazio e desprovido de preconceitos, tudo contribuirá para o engrandecimento de sua sabedoria',(3). O vazio é um pré-requisito para a receptividade e, no plano mundano, para ser de igual valor ao receber e ao perceber. É o vazio de uma xícara, de um jarro, ou de um vaso, que torna a sua utilização possível; é o espaço de portas e janelas que conduz à luz e dá acesso a outros mundos. Embora sustentadas por um sistema, a vantagem e utilidade de nossos dias está no
vazio. Simbolicamente, o homem é uma moldura que, se completamente preenchida, não oferece espaço para mais nada, bloqueia a luz, impede o movimento, e não deixa espaço
para Tao, A argila é moldada em vasos, E por causa do espaço onde nada existe, podemos usá-los
como vasos. Portas e janelas são feitas nas paredes de uma casa,
E por serem espaços vazios, podemos utilizá-las. Portanto, de um lado, beneficiamo-nos da existência, e
de outro, fazemos uso da não-existência(4) O vazio, o Nada, representam a transcendência do dualismo.
Não se trata de uma concepção niilista e, à semelhança do yin-yang, também não se admite um "ou isto ou
aquilo", nem um cheio ou vazio. "Tao gera plenitude e vazio, mas não é nem um nem outro"(5). É a plenitude, o pleroma, o todo da perfeição, o objetivo final *do esclarecimento,
simbolizado pela perfeição do círculo vazio; o Nada, do qual tudo emana, e ao qual tudo retorna. "O Verdadeiro homem é nada e tudo. Ele é inconsciente e está em toda parte.
Assim unifica misteriosamente seu próprio ser com o outro/1 Identifique-se com o Infinito. Viaje ao Nada. Exercite plenamente o que você recebeu da natureza, sem tentar ganhar
nada além disso. Numa palavra: seja vazio".(6) O Taoísmo e o Budismo pregam a mesma doutrina do Nada. "O vazio não falta ao iluminado e à iluminação não falta o vazio":
este é um dito budista que poderia muito bem ter partido de um escritor taoísta. O vazio vai além da imaginação; e, em última análise, é preciso ir além até mesmo do conceito
de unidade, além de todos os conceitos, para chegar ao  Nada.
O primeiro cânon da arte, formulado pelo pintor taoísta Hseih-ho, é o de que ela deve expressar "o movimento vital do espírito através do ritmo das coisas", também traduzido por Waley como "a operação do espírito produzindo o movimento da vida", ou o que poderia ser chamado simplesmente de "vitalidade rítmica". O encanto exterior da arte taoísta guarda um profundo significado interior; ele conduz para além das aparências e liberta o espírito das limitações dos sentidos, de sorte que o homem não fica confinado
à visão material, mundana, mas é colocado numa posição elevada, da qual pode vislumbrar vales e topos de colinas a longas distâncias, o que torna possível uma sutil penetração na natureza. "Não existe outra arte mais sublime, mais benéfica, mais espiritual. Nada existe capaz de levar a uma penetração mais profunda no âmago das coisas.
Ela nos revela a vida intensa que está por trás das aparências: cada uma de suas obras, tal como eram, representava a aparição de um mundo mais real do que o nosso, a
emanação do Espírito que anima todas as coisas e flui através deJtudo"(7).
Embora amplamente ligada a cenas da natureza, a arte chinesa nunca foi uma arte meramente imitativa. Seu objetivo era revelar o conteúdo metafísico mais profundo, impregnado de Tao. O artista não saía para estudar a natureza, para usá-la como uma saída, não saía para pintar a imitação de uma paisagem e retornar, então, ao seu atelier na
cidade; ele vivia em contato com a natureza e era parte integrante dela. A natureza não era algo exterior a ele, algo que servisse à sua tranquilidade e deleite, mas era o seu próprio ser: o artista identificava-se completamente com os ritmos e com a harmonia cósmica, e esta identificação era plenamente consciente. A arte taoísta era inteiramente metafísica:
era um espelho da alma. "O artista é o segredo de sua arte." O Taoísmo partilhava com o Zoroastrismo a crença de que todas as coisas celestiais têm correlatos terrestres, imbuídos da força espiritual que lhes serve de fundo, de sorte que toda arte carente desta qualidade espiritual e designada ao objetivo único de dar prazer é, nas palavras
de Platão, simplesmente um brinquedo. Isto não significa que dar prazer não seja parte da função da arte. A beleza é sempre um prazer e existem relatos fantásticos sobre trabalhos
de artistas que retratavam a natureza, segundo os quais estas obras pareciam tão reais, que tigres teriam caminhada para fora dos quadros, pássaros teriam alçado voo, cavalos
galopado para fora das telas, e as folhas dos bambus, assim como as flores, ter-se-iam movido com a respiração do observador; isto para não mencionar o dragão que teria voado
em direção ao céu assim que o artista lhe deu olhos, e Wu Tao-tzu, que caminhou para dentro de seu próprio quadro, escalou uma montanha ao longe e nunca mais foi visto!"

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